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PIKNIK UNDERGROUND

  • Foto do escritor: Fernando Tietê
    Fernando Tietê
  • 2 de abr. de 2024
  • 4 min de leitura

SEM DIREITO À ESCOLHA


O motivo é triste e não dá pra se soltar brincadeira alguma, assim de saída, eis que estamos falando de um efeito colateral, tão certo, tão nefasto, oriundo do já tragicamente histórico atentado à casa de show, Crocus City Hall, nas imediações de Moscou, no último dia 22/03/2024.

 

Mas, o fato é que o grupo (ou banda, você escolhe) de rock underground, conforme classificou a Billboard Magazine[1], no último 26/03/2024, denominado Piknik, ganhou fama internacional, inimaginável, e do dia para a noite.

 

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É muito importante frisar um detalhe, aqui, nesse momento, e antes que seja tarde! A banda vinha sendo acusada de se posicionar a favor das movimentações do Kremlin em relação à Ucrânia e, por isso, teria entrado na mira de grupos contra o governo Putin, e assim, por conta disso, teria sido escolhida para o atentado da última sexta-feira, 22/03/2024.

 

Vale dizer, contudo, e frisar com a mesma veemência, ou até maior, que a maioria dos atos (e artistas) musicais do país tomam, e sempre tomaram, partido na Rússia, apoiando ou condenando os projetos militares do Kremlin – mas não a (banda) Piknik.

 

Originada nos anos 80, nos últimos anos, passados mais de 45 anos de sua formação, e como diria o Faustão, “mais do que nunca!”, a banda de rock russa vinha se abstendo de fazer qualquer declaração, quer condenando, quer apoiando a operação do Governo Putin na Ucrânia.

 

E olha que não faltaram grupos musicais nacionais a enfrentar proibição de quaisquer manifestações ou, em casos mais graves, do próprio exílio, por expressarem a sua oposição à operação russa no leste ucraniano, enquanto outros atuaram na linha da frente em solidariedade a Putin.

 

No entanto, como já discutimos no nosso Canal do Youtube[2], devido ao terrível atentado terrorista no local do show da banda Piknik, quando e onde, pelo menos 137 vidas foram perdidas, meio que como um efeito colateral, a banda PikNik teve uma procura nas plataformas de música da internet, 341% maiores (dados dos EUA)[3].

 

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O fato é que o atual vocalista da banda, Edmund Shklyarsky, que ingressou em 1981 como guitarrista e logo se tornou o principal compositor do Piknik, permanece sem declarar qualquer declaração com teor político-ideológico desde o ataque terrorista ocorrido na última sexta-feira, 22/03/2024, como sempre fez, diga-se.

 

Seus únicos comentários públicos após a tragédia, divulgou um vídeo expressando “condolências a todos que, involuntariamente, se viram envolvidos nesta terrível tragédia, totalmente sem sentido. É claro que não existem palavras que possam ressuscitar ou consolar as pessoas. Mas, é claro, oferecemos nossas condolências a todos os parentes.

 

Interessante ressaltar, ainda, que no show marcado para o dia seguinte ao do atentado, seus fãs não se afugentaram e comparecendo, tendo comprado todos os 6.200 lugares da casa de shows.

 

Piknik, além disso, voltou ao palco novamente na quarta-feira (27 de março), em São Petersburgo, tendo dedicado seu show seguinte às vítimas do ataque à Casa de Show, Crocus, mas não só, decidiu dedicar os lucros dessa apresentação serão doados às famílias daqueles que perderam a vida ou foram feridos no ataque, conforme declaração da banda nas redes sociais.

 

O empresário da banda, Yuri Chernyshevsky, ainda sem comentar eventuais opiniões da banda Piknik sobre a guerra com a Ucrânia declarou à imprensa que não era à banda que deveriam questionar nada sobre o atentado e seus reais executores, e que a eles cabia, apenas, esperar que a devida aplicação da Lei venha a determinar as verdadeiras razões do ataque.

 

No início da década de 1980, Piknik tornou-se parte do Leningrad Rock Club, uma organização, supostamente controlada pela KGB, que facilitava a apresentação de bandas de rock underground em uma época em que a música rock na União Soviética não era nada bem vista no regime de Gorbachev.

 

Porém, senão por isso, a banda ainda teria sérias barreiras pela frente, quando suas canções vieram a ser alvo de pesadas críticas das autoridades soviéticas, por suas letras fazerem referência ao uso de drogas ilegais.

 

Na segunda metade da década de 1980, o Piknik foi beneficiado pela perestroika e da glasnost[4], na União Soviética, que permitiram que bandas de rock underground, anteriormente praticamente na clandestinidade, fizessem turnês e gravações oficiais.

 

No entanto, ao contrário de algumas bandas proeminentes do período, o Piknik evitou em grande parte questões sociais e políticas, concentrando-se mais em temas esotéricos e místicos em suas letras.

 

Atualmente, a base de fãs da banda é diversificada, desde ouvintes mais velhos que acompanham o Piknik desde 1980, até fãs mais jovens apresentados à banda através das Internet.

 

No momento do ataque de 22 de março, os músicos do Piknik e uma orquestra de 65 integrantes que acompanharia a banda de rock naquela noite estavam em seus respectivos camarins e foram imediatamente evacuados.

 

No entanto, Ekaterina Kushner, membro da equipe administrativa do Piknik, que cuidava da mesa de mercadorias, acabou não sobrevivendo ao ataque.

 

Por fim, é importante ter-se em mente que esse texto não tem a intenção de ver positividade onde só há 137 motivos (ou mais) para não nos esquecermos dele, independente de que lado você esteja no conflito da Ucrânia com a Rússia.


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O que pretendi com esse texto, foi demonstrar que o próprio histórico da (ou do) Piknik nos entrega a prova de que nunca se posicionaram contra ou pró Putin, e seus fãs queriam ver seus músicos, ouvir sua obra oitentista de rock underground.

 

A escolha desse show, dessa banda, dessa data, parece ter uma dupla explicação conveniente, ou seja, de criar uma narrativa de perseguição do Governo Putin e, ao mesmo tempo, para (tentar) ferir a popularidade de Vladimir Putin.

 

Pode ser que você tenha seu lado e não seja o da Rússia, pode ser que seja. O fato é que pessoas (mais do que) inocentes perderam suas vidas. Um monte de chamados “civis” e isso, numa atitude covarde, arquitetada com a intenção de atingir governantes (ou quem quer que seja), menos quem estava ali e se foi.

 

Resumindo, ou nos chocamos com quem morreu, ou é a sociedade, não importa o lado que se escolha, não importa o lado da fronteira que se esteja, será a Humanidade quem terá morrido, e de morte morrida!


[3] Idem nota 1

[4]   Perestroika e Glasnost: as reformas da URSS que iniciaram uma nova ordem mundial. Perestroika significa reconstrução e consistia na tentativa de recuperação soviética; enquanto que Glasnost significa transparência e visava à liberdade de expressão da sociedade.



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