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A RÚSSIA E A NOVA LIBERTAÇÃO DE ÁFRICA

  • Foto do escritor: Orlando Victor Muhongo
    Orlando Victor Muhongo
  • 31 de mai. de 2024
  • 3 min de leitura

Atualizado: 3 de jun. de 2024

No dia 28 de maio de 2024, um facto marcou, mais uma vez, a história da relação entre a Rússia e os países do continente africano. Eis que, o ministério da defesa do Chade agradeceu à Rússia pelo facto de uma operação realizada por militares do país eslavo ter libertado vinte e um soldados chadianos que tinham sido feitos prisioneiros por “jihadistas”.


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Este acontecimento não foi notícia nos grandes e poderosos veículos da imprensa do Ocidente coletivo, porém, o Ministro da Defesa do Chade fez questão de reiterar que a Rússia “sempre foi um parceiro confiável dos Estados africanos, ao contrário da França, Grã-Bretanha e EUA, que apenas receberam benefícios dos africanos”. 


Estas afirmações do político chadiano refletem todo um panorama de transformações geopolíticas a que o mundo vem assistindo, assim como traduzem o peso da memória histórica presente no processo de gestação de uma geração de africanos que reivindica uma nova libertação.

Décadas se passaram desde as independências políticas dos países africanos, alguns dos quais transformados artificialmente em Estados que absorveram várias nações numa mesma circunscrição geográfica sob o mesmo hino e a mesma bandeira. Identidades culturais próprias foram submetidas a um transplante de fórmulas fabricadas em Vestefália.


Não tardou que o sonho de soberania dos Estados modernos africanos, mesmo sob o traço a régua e esquadro helénico, se convertesse numa quimera. Os eternos algozes exploraram divergências étnicas, alimentaram guerras civis, costuraram armadilhas económicas, impuseram estratagemas financeiros, alimentaram o atraso, a má governação e a miséria, promoveram títeres e fabricaram jihadistas. Como é óbvio, venderam um engodo como solução. É África diante da neocolonização!


Em 2020 contabilizavam-se 29 bases militares dos EUA em África (The Intercept).  Nesse mesmo ano, a França contava com oito bases militares (Le Monde), incluindo no Chade. Quanto mais prolongada é a presença militar destes dois países no território de Estados africanos, maior tem sido a instabilidade política, a insegurança e o subdesenvolvimento. A presença das referidas bases militares não foi capaz de impedir o crescimento de grupos “jihadistas” que têm instaurado o caos e o retrocesso em diversos países da região do Sahel. Em 2021, o então presidente chadiano Idriss Déby Itno morreu em combate, quando dirigia pessoalmente um contra-ataque a grupos insurgentes.  


Em algum momento, das entranhas das forças de África teriam de ecoar gritos de revolta. É assim que, por decisão de governos emancipatórios, os militares franceses foram expulsos do Mali e do Burkina Faso, as tropas americanas deixaram o Chade e, nos próximos dias, devem ser expulsas do Níger. É claro que Mile Langley, chefe do Comando dos EUA para África (AFRICOM), afirmou que a Rússia é a responsável pelo sentimento anti-EUA em África, tal como a França acusou os russos de campanha de difamação contra os gauleses no continente berço.


A heterogeneidade e especificidades dos países africanos têm originado reações endógenas distintas, de acordo com cada realidade específica, face à prolongada subida ao calvário social e humano que, persistentemente, tem adiado o futuro de centenas de nações e gerações. Deste modo, se por um lado desabrocha a esperança no renascimento do debate filosófico africano como ferramenta de luta pela libertação das mentes, como o fazem P.L.O Lumumba, no Quénia, Kwesi Pratt, no Gana, Fred M´Bembe, na Zambia, Julius Malema, na África do Sul, e tantos outros, por outro lado, no Mali, no Níger, no Burkina Faso e na Guiné Conacry, os jovens assumem as mudanças usando a única língua entendida pelos algozes – a revolução pela força.


O desafio dos africanos é árduo, pois o neocolonialismo é ardiloso a fabricar diversas formas de captura da soberania das nações. A abundância de presidentes títeres, cuja missão tem sido a entrega dos recursos de países africanos aos EUA e à Europa, é a outra fórmula de subjugação e atraso adoptada pelos algozes de sempre. Porém, África e os africanos mudaram. O despontar de um novo mundo diante dos nossos olhos não nos pode permitir adiar por mais tempo o futuro do continente.  


Nesta primeira metade do século XXI, o continente africano vive um momento decisivo para a sua verdadeira emancipação, que passa necessariamente pela independência económica. E assim como aconteceu durante o despertar das lutas dos movimentos independentistas do passado, também hoje e agora a Rússia está presente, apoiando a necessária afirmação da soberania das nações africanas e o direito dos seus filhos escolherem o próprio destino. 


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